A crise envolvendo o programa do leite, que inclui atrasos no pagamento aos
fornecedores e, segundo eles, defasagem de preços, está impedindo que pelo menos
50 mil litros do produto, dos 155 mil que deveriam ser distribuídos diariamente
para a população, sejam entregues aos beneficiários. A estimativa é do
secretário do Trabalho, da Habitação e da Assistência Social do Rio Grande do
Norte, Luiz Eduardo Carneiro. "Sabemos que está faltando em vários pontos de
distribuição", diz ele. Não há, porém, um levantamento que mostre com precisão
quantas famílias estão deixando de ser atendidas por dia nem em que pontos
estaria havendo desabastecimento.
Como a gestão do programa, dividida
entre a Secretaria e o Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do RN
(Emater), está migrando de forma integral para a Emater, há carência de dados
precisos sobre a distribuição do produto. "Como a gestão plena não está na
Sethas fica difícil acompanhar diariamente", diz Carneiro.
O
coordenador do programa na Emater, Rubens Suassuna, afirma que a entrega está
comprometida em vários postos de distribuição em Natal e no interior, atendidos,
segundo ele, pelo laticínio São Pedro. A usina já teria sido notificada para
regularizar a situação ou para que o contrato de fornecimento seja desfeito e
uma nova usina passe à condição de fornecedora. O Sindicato que representa as
indústrias também já teria sido procurado, mas não teria dado retorno sobre uma
possível solução até a tarde de ontem, de acordo com Rubens Suassuna.
RECUO
O Programa do Leite
já chegou a distribuir 155 mil litros de leite por dia no Rio Grande do Norte.
Hoje, o volume não passa de 110 mil litros. "Com a queda no volume de
distribuição, quem está cadastrado continua recebendo, mas não recebe todos os
dias", diz o coordenador na Emater. A redução do volume é motivada pela saída de
fornecedores. "Os produtores, em função do desestímulo que vem ocorrendo nos
últimos meses, estão abandonando a atividade. As usinas também estão. Duas já
saíram e outras duas já anunciaram que vão sair. Está faltando leite para
entregar ao programa", diz o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária
do RN (Faern), José Vieira. "O programa está se desmanchando",
continua.
De acordo com ele, do total que o programa deveria distribuir
diariamente, 10 mil litros seriam de leite de cabra, mas esse volume não chega
atualmente a 3 mil litros. O volume de leite de vaca também foi reduzido. Com
atrasos no pagamento e preços que, segundo ele, estão abaixo dos oferecidos em
estados vizinhos, "toda a cadeia produtiva é desestruturada". "O produtor não
recebe, a usina também não, trabalhadores são demitidos e o beneficiário fica
sem o produto".
A Emater admite que os atrasos no pagamento desestimulam
a participação dos fornecedores. "Com os atrasos, o laticínio não paga ao
produtor e ele deixa de produzir", diz Suassuna. Mas, segundo ele, essa não é a
única razão para a redução da oferta. No período de seca, geralmente de julho a
dezembro, o pasto - principal alimento dos animais - fica comprometido e a
produção acaba sendo reduzida. "Alguns produtores, nesse período, deixam de
vender o leite", acrescenta Suassuna, citando também casos de pequenos
produtores que deixam de vender ao programa para comercializar a produtores de
queijo, na expectativa de receber o pagamento semanalmente e não de forma
quinzenal, como é acordado no programa do governo.
Na prática, o Programa
do Leite distribui diariamente, de forma gratuita, 01 litro de leite
pasteurizado para gestantes e crianças de famílias carentes no estado.
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